sábado, 7 de outubro de 2017

Carícia


Demore-se no carinho,
de modo que no rosto do outro
vá a mão como se não fora
voltar. Repita,

demorando-se mais,
de modo que a mão descanse
naquele rosto, como se,
e se esqueça de que.

Repita, demore-se no carinho
como se a mão desse adeus,
agarrada ao rosto que se vai.
Outra vez: repita,

demorando-se mais
e mais, como se a mão bebesse
daquele rosto para, saciada, dormir
ali mesmo, ao pé da fonte.

O sol que ainda existe em mim (Nelson Rodrigues de Barros)

D’alma que ante o tempo se levita,
E do beijo que não aconteceu...
Das verdades, de fato, incontidas
Do sonho de amor que ainda não morreu

Sufrágio minha dor nesse peito...
Rebusco motivos ora passados.
Já não se difere o que é de direito...
Sou um arauto do meu próprio teatro.

Refaço assim o roteiro ora sonhado...
Desenhara o meu próprio retrato,
Nessa história bem distante do fim.

E desperto no olhar assim o meu grito,
Na certeza de luzir novamente o brilho...

Do sol que ainda existe em mim.


De Eucanaã Ferraz

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